segunda-feira, 29 de junho de 2020

As Formas-Pensamento




"Cada pensamento do homem, ao se desenvolver, passa para o mundo interno e se torna uma entidade ativa ao se associar - amalgamando-se, poderíamos dizer nesses termos - a um elemental; isto é, uma das forças semi-inteligentes dos reinos. Ele sobrevive como uma inteligência ativa, uma criatura produzida pela mente, por um período longo ou curto, conforme a intensidade da ação cerebral que o produziu. Portanto, um bom pensamento é perpetuado como um poder benéfico e ativo; um pensamento maléfico como um demônio maléfico. Assim o homem continuamente preenche o ambiente ao seu redor com um mundo de sua própria criação, povoado com a prole de suas fantasias, desejos, impulsos e paixões, uma corrente que reage sobre qualquer organismo sensível ou/e agitável com o qual entra em contato na proporção de sua intensidade dinâmica." (A.P. SInnett - Occult World, p.130; Também em: Mahatma Letters to A.P. Sinnett, pp.70-71, edição de Pasadena).

Blavatsky sobre Atma-Buddhi-Manas na D.S. vol.1



Trechos sobre Atma-Buddhi-Manas no volume 1 de A Doutrina Secreta.


H.P.B. 



"O astral, por meio de kama (o desejo), atrai continuamente manas para a esfera das paixões e desejos materiais. Mas se o homem melhor, ou manas, se esforça por escapar à atração fatal, e orienta suas aspirações para Atman (Neshamah), então buddhi (ruach) vence, levando consigo manas para o Reino da Espírito Eterno."  (D.S. Vol. 1, p.278) 


" o corpo segue os impulsos, bons ou maus, de manas; manas procura seguir a luz de buddhi, mas frequentemente falha. Buddhi é o molde das "vestes" de Atman, pois Atman não é o corpo, nem forma, nem coisa, e buddhi não é o seu veículo senão em sentido figurado." (D.S. Vol. 1, p. 278). 


quarta-feira, 24 de junho de 2020

Notas sobre o Karma - Lamrim ChenMo (Je Tsongkhapa)

As Características Gerais do Karma 

Seleção de passagens sobre o Karma nos capítulos 13 e 14 do  Lamrim ChenMo de Je Tsongkhapa


Je Tsongkhapa


Neste ponto tenha domínio sobre as classificações de virtude e não-virtude, bem como os seus efeitos. Deve fazer de sua prática a adoção e a retirada apropriadas de virtudes e não-virtudes, respectivamente. 

 • Pois, a não ser que reflita sobre os dois tipos de karma e os seus efeitos e, então, abandone a não-virtude e adote a virtude, não interromperá as causas de renascimentos miseráveis, e mesmo temendo os reinos miseráveis, não será capaz de escapar daquilo que teme.  

• É necessário ter convicção acerca do karma e de seus efeitos.  

• Há quatro modos de refletir sobre o karma e os seus efeitos: • 1. A certeza do karma. • 2. A intensificação do karma. • 3. Não experienciar efeitos de ações que você não cometeu. • 4. As ações que você cometeu não perecem.

1. A certeza do Karma  

• Toda felicidade no sentido de sensações de alívio ou agradáveis surge de karma virtuoso previamente acumulado.  

• É impossível obter felicidade a partir de karma não-virtuoso.  

• Todos os sofrimentos no sentido de sensações dolorosas, incluindo mesmo o sofrimento mais sutil que ocorre na mente de um Arhat, surge de karma não-virtuoso previamente acumulado.
  
• É impossível obter sofrimento a partir do karma virtuoso.  

• Das não-virtudes advêm todos os sofrimentos e quedas em reinos miseráveis. Das virtudes advêm todas alegrias e renascimentos em reinos auspiciosos. 

• Consequentemente, a felicidade e o sofrimento não ocorrem na ausência de causas, nem surgem de causas incompatíveis, tais como um criador divino ou uma essência primeva. 

 • Pelo contrário, a felicidade e o sofrimento, em geral, advêm do karma virtuoso e não-virtuoso, e cada felicidade e sofrimento particular surgem individualmente, sem mesmo uma mínima confusão dentre as várias instâncias particulares desse tipo de karma.  

• Alcançar certo conhecimento acerca do caráter certo ou não-enganoso do karma e seus efeitos é uma perspectiva correta para todos os budistas e é considerado como o fundamento de toda virtude.  

2. A intensificação do Karma 

• Um efeito de imensa felicidade pode surgir mesmo de um pequeno karma virtuoso. 

 • Um efeito de imenso sofrimento pode surgir mesmo de um pequeno karma não-virtuoso.  

Portanto, a causalidade karmica interna parece envolver uma intensificação que não é encontrada na causalidade externa.  Como um veneno que foi ingerido, a prática de mesmo uma pequena ação não-virtuosa cria em nossas vidas grande medo e pode levar uma queda terrível.

Assim como o grão amadurece numa recompensa, mesmo a criação de um mérito pequeno pode levar a vidas futuras de grande felicidade e será imensamente significativo também.

• É pelo acúmulo de gotas d’água que um grande vazo gradualmente se enche. Da mesma forma um tolo acaba preenchido de não virtude acumulada de pouco em pouco. E assim funcionada com os perseverantes e a virtude.  

• Mesmo que agora ignore tais assuntos, em vidas futuras experienciará os seus efeitos.  

• Aqueles que não treinam em generosidade, shila e daí por diante poderão ter contato com boas linhagens, bons corpos e boa saúde e podem ter grande poder e riqueza enorme, mas não encontrarão a felicidade em vidas futuras.  

• Após ter obtido a certeza de que o karma virtuoso e não virtuoso dão origem à felicidade e ao sofrimento, elimine as não-virtudes e esforce-se em ações virtuosas. Os que não tiverem fé que façam como quiserem. 

3. Não experienciar os efeitos de ações não cometidas  

• Se não tiver acumulado o karma que é a causa para uma experiência de felicidade ou sofrimento, você não experienciará a felicidade ou sofrimento que é o seu efeito.

4. As ações cometidas não perecem (sempre têm efeitos) 

 • Aqueles que cometem ações virtuosas e não-virtuosas criam efeitos agradáveis e desagradáveis. Como dito no Dharma-Raja-Samadhi sutra: “Uma vez cometida uma ação, você experienciará os seus efeitos e não experienciará os efeitos de outros.”

 • As Bases do Vinaya diz: Mesmo numa centena de eras, o Karma não perece. Quando as circunstâncias e o tempo certo chegam, os seres certamente sentem os seus efeitos. 

As Variações do Karma 

  Há três modos de se envolver em condutas boas e ruins – fisicamente, verbalmente e mentalmente. 

• O Buddha, o Bhagavan, resumiu essa doutrina no ensinamento das dez ações não- virtuosas e virtuosas. 

• O Buddha viu que quando se abandona as dez ações não virtuosas, adota-se as ações virtuosas. 

• Se praticar esses três caminhos de ação – guardando a sua fala, restringindo-se mentalmente e não cometendo ações não-virtuosas – você alcançará o caminho ensinado pelo Sábio. 

• Conhecendo os dez caminhos de ações não-virtuosas, restrinja-se até mesmo da motivação de cometê-las. 

• Esta prática é indispensável como a base para todos os três veículos (hinayana, mahayana, vajrayana). 

• Os caminhos das dez ações virtuosas são fontes de nascimentos humanos ou divinos, da iluminação dos realizadores solitários (pratyekabuddhas) e de todas ações dos Bodhisattvas, assim como das qualidades de um Buddha. 

• Não há causas de boas condições ou bom status senão shila (harmonia) 

• Continuamente guarde a sua shila, mantendo um senso de contenção. 

• Há pessoas que não praticam tal contenção mesmo em relação a uma única prática de shila, mas ainda assim dizem: “sou um praticante do Mahayana.” Isso é muito indigno. 

• O Sutra de Ksitigarbha diz: “Por meio desses dez caminhos de virtude, você se tornará um Buddha. Entretanto, há aqueles que, por toda a sua vida, não mantêm minimamente um único caminho de ação virtuosa, mas que dizem coisas tais como: “sou uma praticante Mahayana; busco a iluminação perfeita e insuperável.” Tais pessoas são grandes hipócritas e mentirosas. Eles enganam o mundo na presença de todos os Buddhas e pregam o niilismo. Ao morrer, eles parecem confusos e caem novamente (num renascimento inferior).

As Dez ações não virtuosas:  
1. Matar; 
2. Roubar;
3. Conduta sexual inadequada;
4. Mentir;
5. Discurso divisor/discórdia;
6. Discurso ofensivo/ fala agressiva;
7. Discurso sem sentido/ Tagarelice/ Fofoca;
8. Cobiça/avareza;
9. Malícia/ Desejar o mal;
10. Visões errôneas.

• Cada uma dessas ações pode variar de acordo com o grau de intensidade e o contexto que são realizadas. Por exemplo, sacrificar outros seres em rituais religiosos (animais ou humanos) devido à visão errônea de achar que um criador gerou seres para serem usados, podendo até mesmo sacrificar um arhat ou tentar matar um Buddha constitui um tipo de matar muito mais pesado e danoso que matar por acidente. 

• Causar divisões ou discórdia entre buscadores do Dharma também é uma falta grave. 

• Não é possível superar as não-virtudes sem arrepender-se, confessá-las e comprometer-se a não repetí-las.

 •  Também há variações de peso no caso das ações virtuosas. Dar o Dharma com a intenção de auxiliar os seres sencientes e alcançar o Budado é vastamente superior à doação de coisas materiais. 

• Ao praticar as dez ações virtuosas por meio da compreensão da originação-dependente, o nível de um pratyekabuddha (realizador-solitário) é alcançado. 

• Quando se cultiva as dez ações virtuosas com grande compaixão, métodos habilidosos e aspiração de não abandonar os seres sencientes, focando-se na sabedoria vasta e sublime de um Buddha, alcança-se o nível de um bodhisattva e todas as perfeições. Por essa prática em todas as situações, alcançam-se as qualidades de um Buddha.  

•Ações não virtuosas criam mesmo em renascimentos afortunados efeitos tais como  um tempo de vida curto, muitas doenças e miséria.  

• Entenda que as ações virtuosas e não-virtuosas projetam o nascimento em reinos felizes e em reinos miseráveis, respectivamente.

•O karma consumado (maduro) é aquele por meio do qual se experiencia o desejado e o indesejado.

• Asanga (Abhidharmasamuccaya) fala em quatro tipos de Karma:
1. um único instante de uma ação que  acumula uma semente (tendência/samskara) a se desenvolver numa única vida;
2. uma ação que acumula uma semente a ser desenvolvida em muitas vidas;
3. muitos instantes de uma ação contínua que acumula uma semente para apenas um corpo (uma vida);
4. e muitas ações mutuamente dependentes que acumulam sementes para muitos corpos em uma sucessão de vidas.

• O karma cujo resultado se experiencia definitivamente é aquele conscientemente gerado e acumulado. Karma cujo resultado não necessariamente será experienciado é aquele conscientemente gerado, mas não acumulado. 

• Há uma distinção entre karma gerado e karma acumulado (Yogacarabhumi -Asanga): 

O que é karma gerado? É um pensamento (ação de mente) ou uma ação desempenhada verbalmente (ação de fala) ou fisicamente (ação de corpo). 

• Karma acumulado é aquele que NÃO  se enquadra nestes dez tipos de ações:
1.ações realizadas em sonhos;
2.ações realizadas sem saber (e sem intencionalidade) de que causam danos;
3. Realizadas inconscientemente;
4. feitas sem intensidade ou não-continuamente;
5.feitas por engano;
6. feitas devido ao esquecimento;
7.feitas sem querer;
8. ações eticamente neutras;
9.ações erradicadas por meio do arrependimento;
10. erradicadas por um antídoto.

• Essas ações têm efeitos e consequências, mas não necessariamente se acumulam no continuum mental como samskaras/tendências por não terem a intencionalidade ligada ao poder do apego e da aversão.  

• Karma experienciado após ter renascido é o efeito de ações acumuladas a serem experienciadas na próxima vida após a ação em questão. Karma experienciado em outros períodos é o efeito de ações que amadurecerão durante ou após o terceiro nascimento após a ação em questão.  

• O modo como os muitos karmas virtuosos e não-virtuosos acumulados em seu fluxo mental amadurecem:

• (1) O karma mais intenso amadurecerá primeiro. 
• (2) se a intensidade/peso dos karmas é igual, então, qualquer karma manifesto na hora da morte amadurecerá primeiro. 
• (3) Se também houver equivalência entre os karmas nessa situação, aquele karma com o qual se tornou predominantemente mais habituado amadurecerá primeiro. 
 • (4) Se não houver um karma mais predominante que outro, então, aquele gerado primeiro amadurecerá primeiro.  
• É certo que você alcançará um bom corpo e uma boa mente ao abandonar as dez ações não-virtuosas. Se conseguir gerar as condições para um corpo e uma mente plenamente qualificados, então acelerará o seu cultivo do Dharma como nada mais poderia. Portanto, busque tal estilo de vida.    
• Outras atitudes puras incluem: abandonar o ciúmes, a competitividade, o desprezo quando vê outros praticantes do ensinamento que são superiores, iguais ou inferiores a você, admirando-os.

 • Mesmo que seja incapaz de fazer o que é dito acima, discernir por muitas vezes durante o dia de que deve fazê-lo.

(Seleção e tradução por Bruno Carlucci em junho de 2020).

Referências:

Lamrim ChenMo vol. 1- Tsongkhapa (trad. em inglês -The Great Treatise on the Stages of the Path to Enlightenment - Volume 1). Lamrim ChenMo Translation Comittee.