A meditação apresentada no contexto budista Mahayana indo-tibetano em tratados como o Bhanavakrama (Os Estágios da Meditação), de Kamalashila e no Lamrim ChenMo, de Je Tsongkhapa (da escola gelugpa no Tibete) não é exatamente "estar presente" apenas como ficou comumente entendido pelo senso comum no Ocidente. Je Tsongkhapa define meditação como familiarização.
Não é apenas uma técnica passiva para observar os estados mentais ou as ações cotidianas, mas um método de transformação da mente, de modo que é necessário um objeto "virtuoso" de meditação, isto é, um objeto vinculado ao estudo e reflexão do Dharma budista, de modo que a mente consiga se estabilizar nesse estado mental virtuoso e ter a flexibilidade necessária para o segundo passo que é a meditação analítica. O que também vai contra a ideia do senso comum de que meditação é parar de pensar ou apenas observar o fluxo do pensamento sem julgar.
Na meditação analítica, o pensamento é ativamente usado para se aprofundar na compreensão desse objeto de meditação. Com a mente devidamente estabilizada, essa análise pode promover uma compreensão mais profunda, um insight, uma "intuição". Então, bem resumidamente, meditar nesse contexto consiste em meditar sobre algo, é uma prática acompanhada de estudo e reflexão. A meditação é uma técnica para ajudar a alcançar a sabedoria (prajna) que compreende o vazio de existência inerente do "eu" e dos fenômenos, é um método para levar à compreensão da natureza última da realidade.
Primeiro doma-se o elefante da mente por meio da serenidade mental (shamatha) e, então, o praticante monta no elefante empunhando a espada flamejante da sabedoria que corta os fios das visões distorcidas da realidade por meio da meditação analítica (vipasyana). Budistas não ficam meditando toda hora, se a mente estiver muito perturbada pode nem ser bom forçar uma prática meditativa naquele momento, e meditação não é panaceia. Não adianta meditar meia hora por dia sobre a virtude da paciência e ter uma conduta de vida não condizente com o cultivo dessa virtude.
Sentir-se focado e atento ao cortar a grama, cozinhar, dançar etc não configura meditação nesse contexto. Outras escolas budistas e hinduístas podem ter diferentes acepções e abordagens acerca do que é meditação e diferentes palavras em sânscrito podem ser traduzidas como meditação ou contemplação ou relacionadas a tal prática (bhavana, dhyana, dharana, samadhi), cada uma com suas nuances e significados de acordo com cada escola interpretativa.
Este foi um resumo breve e imperfeito sobre o que é dito por dois autores importantes para a Escola Gelugpa do budismo tibetano. Quem quiser se aprofundar, fica a dica de leitura desses e outros autores (Kamalashila, Shantideva, Atisha, Je Tsongkhapa, Geshe Rabten, Geshe Dargyey, Pabongkha Rinpoche, só para citar alguns, há muitos outros). Na foto: Je Tsongkhapa (1357—1419), o reformador do Dharma no Tibete.