Sobre Bodhicitta (A Mente Altruísta)
Nagarjuna*
Livre da noção de que os fenômenos tenham existência inerente;
Deixando de lado a apreensão de existência inerente de todos os fenômenos e conceituações,
Tais como os agregados, os elementos e os campos dos sentidos;
Devido à falta de existência inerente comum a todos os fenômenos,
A mente é primordialmente não nascida;
Tal natureza é o vazio de existência inerente (shunyata).
Os Buddhas têm a mente desperta
Pois não são obscurecidos por concepções enganosas,
tais como a noção de “eu”, “agregados” inerentemente existentes;
A natureza do eu e dos fenômenos é vazia de separatividade.
É com a mente umedecida pela compaixão
Que deves cultivar bodhicitta [o altruísmo] com esforço.
Os Buddhas que corporificam a grande compaixão
Desenvolveram uma bodhicitta constante.
Para aqueles que se alegram com o Mahayana, o Grande Veículo,
O Buddha objetivamente ensinou
O vazio de existência inerente na perfeita equanimidade;
E que a mente é primordialmente não nascida.
Desprovidos de origem e características fenomênicas,
Desprovidos de essência individual e transcendendo a linguagem,
Espaço, bodhicitta e Nirvana
Têm as características da não-dualidade.
Aqueles que habitam no coração da iluminação,
Como os Buddhas, os Grandes Seres [Mahasattvas],
E todos os Grandes Compassivos [Bodhisattvas]
Sempre entendem que o vazio é como o espaço.
Portanto, medite constantemente no vazio de existência inerente [shunyata]:
A base de todos os fenômenos,
Pacificação é a natureza última dos fenômenos,
A aparência ilusória é a natureza relativa dos fenômenos.
Sem base fenomênica, a sabedoria do vazio
liberta do samsara.
Aqueles sob o poder da compaixão
seguem em frente, renascem e trazem alegria,
Renunciando ao poder mundano, engajando-se numa disciplina ascética,
Dirigem-se ao Grande Despertar e derrotam os Maras [os vícios];
Giram a Roda do Dharma,
Entram no reino de todos os deuses [devas],
Dirigindo-se aonde devem ir,
Além dos limites do sofrimento.
Nas formas de Brahma, Indra e Vishnu,
E nas formas ferozes de Rudra,
Eles executam a dança compassiva
Com ações que conduzem os seres ao
Nirvana.
Os Grandes Seres, Bodhisattvas-Mahasattvas,
Não habitam nem no samsara, nem num nirvana individual,
por isso os Buddhas ensinaram sobre a liberação do Bodhisattva,
a liberação em que não se abandona o voto de auxiliar todos os seres.
Bodhicitta [a mente desperta e altruísta] é o ideal mais elevado do Mahayana,
Então, por meio de um esforço habilidoso e determinado,
Gere bodhicitta.
O mérito obtido da geração de bodhicitta,
se pudesse ser mensurado,
se estenderia para além dos limites do espaço.
A pessoa que, mesmo por um instante,
medita sobre bodhicitta
abre uma arca de inestimáveis tesouros.
Nem mesmo os Conquistadores, os Buddhas,
podem mensurar o mérito de bodhicitta.
Tais como as inabaláveis aspirações
dos Buddhas e Bodhisattvas,
Firme deve ser a mente
Daqueles que buscam
a imersão em bodhicitta.
Mesmo com tamanha admiração,
Conforme aqui explicado,
Deves realizar as ações*
do grande Bodhisattva
Samantabhadra.
(Nagarjuna - Bodhicittavivarana [Um comentário a bodhicitta])
*Adotar o modo de vida do Bodhisattva, guiado por bodhicitta e pela prática das virtudes e busca da sabedoria. Samantabhadra é o Bodhisattva que representa esse ideal. Abaixo uma imagem de Samantabhadra:
*Tradução condensada e selecionada de passagens do Bodhicittavivarana, de Nagarjuna, sem fins comerciais, feita por Bruno Carlucci.
*Nagarjuna (séc, II), é um dos mais importantes expoentes do budismo Mahayana da Índia. Fundador da Escola Madhyamika, a Escola do Caminho do Meio.
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