Nagarjuna (c.150-250), um dos filósofos mais influentes do budismo mahayana, enfatizou um ensinamento central, conhecido como “śūnyatā”, ou vazio (shunya). Esse ensinamento, presente nos Sutras da Perfeição da Sabedoria, é uma das marcas distintivas do budismo mahayana e de um de seus pilares: a Escola Madhyamika de Nagarjuna, Aryadeva, Nagabodhi e outros.
Segundo Nagarjuna, o vazio não significa inexistência ou nada absoluto, mas sim a ausência de existência inerente ou substancial em todos os fenômenos. Em outras palavras, as coisas não possuem uma essência fixa, independente e permanente. Em vez disso, elas existem de maneira dependente, interrelacionada e contingente.Para explicar essa ideia, Nagarjuna utilizou o conceito de “surgimento dependente” (pratītyasamutpāda). Segundo essa visão, todos os fenômenos surgem na dependência de causas e condições e não têm uma existência autônoma. Por exemplo, uma árvore depende de sementes, solo, água, luz solar e tempo para crescer. Sem essas condições, a árvore não existiria. Portanto, a árvore é vazia de existência inerente.
Nagarjuna aplicou essa análise não apenas a objetos físicos, mas também a conceitos, emoções e até mesmo ao próprio eu. Ele argumentou que, ao compreender o vazio, superamos as percepções errôneas e os apegos que causam sofrimento. A compreensão do vazio, portanto, é vista como um aspecto fundamental do caminho para a libertação e a iluminação.
Em seu texto mais conhecido, “Mūlamadhyamakakārikā” (Os Versos Fundamentais do Caminho do Meio), Nagarjuna demonstrou como todas as coisas são vazias. Ele enfatizou que até mesmo o próprio vazio é vazio. Isto é, não deve ser visto como uma existência absoluta ou uma dimensão metafísica, muito menos um nada niilista, mas como um meio habilidoso para desmantelar visões errôneas que atribuem uma falsa separatividade essencial ao eu e às coisas.
Em suma, o vazio segundo Nagarjuna é a compreensão de que todas as coisas carecem de uma existência inerente, pois são interdependentes. Essa visão desafia as noções convencionais de permanência e separatividade, oferecendo uma perspectiva profunda para superar o apego ao eu e alcançar a libertação do samsara.
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