Declaração [sobre as Cartas dos Mahatmas]*
Helena Petrovna Blavatsky
[Esta declaração é precedida pelas seguintes palavras da Sra. Gebhard: “Extratos de uma carta de H.P.Blavatsky, com a data de 24/1/1886 em Wurzburg, copiada pela Sra. Gebhard. O conteúdo foi confirmado verbalmente por H.P.B. ao Sr. e Sra. Gebhard em Elberfeld, em junho de 1886.]
Nesta manhã, antes da chegada de sua carta às seis horas, o Mestre me deu permissão e disse para que explicasse a você e a todos os teosofistas sinceros e verdadeiramente devotados (“o que se colhe, se planta”) sobre as perguntas, as preces pessoais e privadas, as respostas formuladas na mente daqueles a quem tais assuntos podem ainda interessar, aqueles cujas mentes ainda não estão completamente indiferentes a tais questões terrenas e mundanas, trazendo respostas de chelas e neófitos, frequentemente algum conteúdo refletido da minha própria mente. Pois os Mestres não disponibilizariam seus pensamentos, por um momento sequer, a questões individuais e privadas a apenas uma ou mesmo a dez pessoas, relacionadas ao seu bem-estar pessoal, suas lamentações e alegrias neste mundo de Maya, a nada senão questões de importância realmente universal.
Foram todos vocês, teosofistas, que rebaixaram em suas mentes os ideais de nossos Mestres; vocês, ainda que inconscientemente e com a melhor das intenções e total sinceridade, OS profanaram, ao acreditar por um momento que Eles se ocupariam com vossas questões profissionais, o nascimento de filhos, o casamento de filhas, a construção de casas etc etc.
No entanto, aqueles de vocês que receberam tais comunicações, sendo quase todos sinceros (os insinceros receberam o devido tratamento conforme outras leis específicas), e sabendo da existência de Seres que, conforme vocês julgaram, poderiam facilmente ajudá-los, tinham o direito de buscar o Seu auxílio, de se endereçar a Eles assim como um monoteísta se endereça ao seu Deus pessoal e profana o Grande Desconhecido um milhão de vezes acima dos Mestres, pedindo a Ele (ou Aquilo) ajuda com as colheitas, a destruição de um inimigo e o envio de um filho ou uma filha; e tendo tal direito no sentido abstrato, Eles [os Mestres] não poderiam desprezá-los e recusar-lhes uma resposta, senão Deles próprios, ordenando, então, a um(a) chela que satisfizesse as suas dúvidas da melhor forma possível, de acordo com as capacidades do próprios chelas.
Quantas vezes eu (uma não Mahatma) fiquei chocada e sobressaltada, queimando de vergonha quando me mostraram notas escritas nas Suas (duas) caligrafias (caligrafia adotada para a S.T. e usada por chelas, mas jamais sem a permissão especial dos Mahatmas ou ordem para tal), exibindo erros de ciência, gramática e pensamentos, expressa numa linguagem que pervertia completamente o significado originalmente intencionado e, às vezes, expressões que em sânscrito, tibetano ou qualquer outra língua asiática teriam um sentido bem diferente, como um que fornecerei de exemplo.
Em resposta à carta do Sr. Sinnett se referindo a alguma contradição aparente em ÍSIS, o chela que precipitou a resposta do Mahatma K.H. colocou: “tive de exercitar toda a minha esperteza (em inglês, ingenuity) para conciliar as duas coisas”. O termo em inglês ingenuity, usado para expressar candura, imparcialidade é agora uma palavra obsoleta com esse sentido, não mais usada dessa forma, mas que até eu encontrei no dicionário Webster, enquanto Massey, Hume e, acredito que mesmo o Sr. Sinnett, interpretaram mal a palavra, tomando-a pelo sentido de “astúcia”, “esperteza”, “perspicácia”, para formar uma nova combinação como se não houvesse contradição. Portanto: “O Mahatma confessa, sem reservas, usar de esperteza (ingenuity), usar de astúcia para conciliar as coisas, como um advogado ardiloso e trapaceiro” etc etc.
Agora se eu tivesse sido a responsável por precipitar ou escrever a carta, teria usado a palavra “ingenuousness”, “coração aberto, franqueza, honestidade, livre de reservas ou dissimulação”, como o dicionário Webster a define e o opróbrio lançado sobre o caráter do Mahatma K.H. teria sido evitado. Eu não teria escrito ácido carbólico ao invés de ácido carbônico etc. Muito raramente o Mahatma K.H. ditava palavra por palavra; e quando assim o fazia, lá restavam as poucas passagens sublimes em suas cartas para o Sr. Sinnett. O restante, Ele diria, “escreva tal e tal” e o chela escrevia, geralmente sem saber uma palavra de inglês, assim como eu tenho a incumbência de escrever em hebraico, grego, latim etc.
Portanto, a única coisa pela qual posso ser repreendida – uma repreensão que estou sempre pronta a assumir embora não a tenha merecido, uma vez que fui apenas o instrumento obediente e cego de leis e regulamentos ocultos, é de ter (1) usado o nome do Mestre quando pensei que a minha autoridade não valeria de nada, quando acreditei sinceramente estar agindo de acordo com as intenções do Mestre** e pelo bem da causa; e (2) de ter guardado aquilo que as leis e regulamentos de meus compromissos não me permitiam revelar até então; (3) talvez (novamente por esta razão) de ter insistido que tal e tal nota era do Mestre, escrita por seu próprio punho, a todo o momento pensando jesuiticamente, eu confesso: “Bem, já que está escrito sob Suas ordens em Sua caligrafia, afinal de contas, por que vou me explicar àqueles que não podem entender a verdade e talvez acabe por piorar as coisas.”
Duas ou três vezes, talvez mais, as cartas foram precipitadas em minha presença, por chelas que não sabiam falar inglês e que tiraram ideias e expressões da minha mente. Os fenômenos na realidade, em realidade solene, foram maiores nesses períodos do que antes! Entretanto, eles pareciam ter suspeitas e eu tinha de segurar a minha língua, vendo a suspeita crescer nas mentes daqueles a quem mais
amo e respeito, incapaz de me justificar ou de dizer uma palavra. Somente o Mestre sabia o quanto eu sofria.
Pense apenas em mim doente na cama (um caso que ocorreu com Solovioff em Elberfeld); uma carta sua, uma carta antiga recebida em Londres e rasgada por mim, rematerializada como pude ver com meus próprios olhos, pois estava olhando para ela; cinco ou seis vezes na língua russa, na caligrafia do Mahatma K.H. em azul, as palavras tiradas da minha cabeça, a carta velha e amassada viajando devagar e sozinha pelo quarto (nem eu consegui ver a mão astral do chela que conduzia essa operação), então caindo entre os papéis de Solovioff, que escrevia em sua pequena escrivaninha, corrigindo os meus manuscritos. Olcott estava perto dele e acabara de lhe passar os papéis. Solovioff encontrara a carta, e vejo em russo o seu pensamento como um flash: “O velho impostor (referindo-se a Olcott) deve ter colocado isso aqui!”. Houve centenas de situações semelhantes.
Bom, isso é suficiente. Disse a verdade, apenas e nada mais do que a verdade. Muitas são as coisas sobre as quais não tenho o direito de explicar, mesmo se tivesse de ser enforcada por isso.
Notas:
* Texto publicado em The Early Teachings of The Masters 1881-1883, editado por Jirajanadasa. Wheaton, Illinois: The Theosophical Press, 1923.
O texto em inglês também está disponível na íntegra no Blavatsky Archives
** sobre isso H.P.B. diz: "Por diversas vezes, percebi que estava errada e agora sou punida por isso com a crucificação diária e constante. Peguem as pedras, teosofistas, peguem-nas, irmãos e irmãs gentis e bondosos, e me apedrejem até a morte por tentar fazê-los felizes com uma palavra dos Mestres!"
Texto traduzido por Bruno Carlucci, como parte de uma coletânea de estudos das cartas dos Mahatmas, organizada pelo teosofista David Reigle. A coletânea completa, contendo os artigos de Reigle sobre o uso de terminologia budista nas cartas dos Mahatmas, pode ser acessada aqui.
Notas:
* Texto publicado em The Early Teachings of The Masters 1881-1883, editado por Jirajanadasa. Wheaton, Illinois: The Theosophical Press, 1923.
O texto em inglês também está disponível na íntegra no Blavatsky Archives
** sobre isso H.P.B. diz: "Por diversas vezes, percebi que estava errada e agora sou punida por isso com a crucificação diária e constante. Peguem as pedras, teosofistas, peguem-nas, irmãos e irmãs gentis e bondosos, e me apedrejem até a morte por tentar fazê-los felizes com uma palavra dos Mestres!"
Texto traduzido por Bruno Carlucci, como parte de uma coletânea de estudos das cartas dos Mahatmas, organizada pelo teosofista David Reigle. A coletânea completa, contendo os artigos de Reigle sobre o uso de terminologia budista nas cartas dos Mahatmas, pode ser acessada aqui.
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