segunda-feira, 24 de agosto de 2020

O Mistério da Ética: O Homem é a Morada do Fogo-Logos

Lançamento de livro:

O Mistério da Ética: O Homem é a Morada do Fogo-Logos

A Ética das Virtudes e da Compaixão na PhiloSophia do Ocidente e Oriente




Em seu novo livro, o filósofo Alberto Brum nos conduz a uma jornada em busca do real significado da ética por meio de sua extensa pesquisa. Qual a diferença entre a ética e a moral? Muito embora ambas sejam utilizadas quase que como sinônimos no cotidiano, conforme bem nos mostra o livro, as origens da ética vão muito além dos condicionamentos culturais e temporais da moral. 

Partindo de Heráclito, em seu fragmento ethos anthropos daimon, o ethos como morada do Fogo-Logos universal, a Luz presente em tudo que é o próprio fluir da vida em harmonia. A ética se manifesta na reta ação, a ação (de mente, fala e corpo) que não se desvia do Fogo-Logos presente no interior de cada ser humano. 

Nesse sentido, como explicado no livro, para acessar esse Ethos não basta seguir um manual de regras moralmente aceitas pela nossa época e nossa cultura, mas se embrenhar pela via dos mistérios, mergulhar no caminho para dentro de si mesmo, fora da caverna das ilusões que nos fazem esquecer da luz primordial presente em tudo. 

Nessa jornada por diferentes escolas do ocidente e oriente, Brum faz uma conexão da visão de Demócrito com a ética na filosofia pitagórica. A ética das virtudes na Grécia e na Índia, uma introdução à ética no estoicismo e à ética da compaixão na filosofia budista mahayana. A retomada da ética da compaixão pelo filósofo alemão Schopenhauer, que também teve contato com o budismo, e sua influência na ética da responsabilidade para com o Outro em E. Lévinas e em E. Dussel.

A ética não é uma exclusividade dos filósofos gregos, não é uma invenção ocidental, nem uma simples questão de estabelecer regras de conduta para o cotidiano (embora num mundo ideal, toda moral devesse ser fundamentada na ética universal). Pelo contrário, a ética é o próprio Fogo da vida, que renova a natureza e que nos chama para o alto, a nossa verdadeira morada, a luz (ou o logos) que vem do Um.

Essa busca pelo retorno à nossa morada original se dá pelo silenciar de todos os ruídos que nos distanciam desta chama, uma fagulha do Ser indistinto do Um. Isso se dá por meio da via contemplativa. A via contemplativa só se faz efetiva, deixando-se a noção de um eu fragmentado e separado de lado, voltando-nos para as virtudes que superam este eu que quer ser adulado a despeito dos danos que causa às outras pessoas, aos outros seres, ao planeta. Desenvolver a compaixão, como tão enfatizado na filosofia budista mahayana é uma forma de ir além da separatividade, devotando-se ao cuidado de todos os seres. Um cuidado que também pode ser encarado como o cuidado ao próprio Ser manifestado em todos os seres, como tão enfatizado pela via bhakti indiana. 

O Mistério da Ética é, portanto, um caminho de esvaziamento de eu, pois só relegando-o a um papel acessório, ao veículo que é (e não o protagonista que se imagina), podemos adentrar a Morada do Fogo-Logos, a nossa verdadeira casa. O livro de Brum nos leva a essa jornada profunda e nos fornece um mapa do tesouro das escolas filosóficas ocidentais e orientais, incluindo alguns de seus expoentes e obras principais, que tratam desse tema e podem nos ajudar a adentrar a via dos Mistérios, a senda que nos guia rumo ao Anthropos que somos.  

O livro pode ser adquirido no site da Editora Garbha-Lux, clique aqui para visitar a loja da editora e conhecer mais sobre o seu catálogo.  

O contato com a editora também pode ser feito via whatsapp: (61)32220046 e email: contato@garbha-lux.org.   


 

sexta-feira, 31 de julho de 2020

O Fédon de Platão e o caminho das virtudes

O Fédon de Platão



Seleção de passagens sobre a jornada da alma e a senda da virtude:

"...os verdadeiros filósofos se acautelam contra os apetites do corpo, resistem-lhes e não se deixam dominar por eles; não têm medo da pobreza nem da ruína de sua própria casa, como a maioria dos homens, amigos das riquezas, nem temem a falta de honrarias e a vida inglória, como se dá com os amantes do poder e das distinções. Não é essa a razão de se absterem de tudo."

"É que toda alma humana, nos casos do prazer ou de sofrimento intensos, é forçosamente levada a crer que o objeto causador de semelhante emoção é o que há de mais claro e verdadeiro, quando, de fato, não é assim."

"Porque os prazeres e os sofrimentos são como que dotados de um cravo com o qual se transfixam a alma e a prendem ao corpo, deixando-a corpórea e levando-a a acreditar que tudo o que o corpo diz é verdadeiro."

"...logo depois, [a alma] volta a cair noutro corpo, onde cria raízes como se tivesse sido semeada nele, ficando de todo alheia da companhia do divino, do que é puro e de uma só forma."

"A alma do filósofo não raciocina desse jeito, nem pensa que a filosofia deve libertá-lo, para depois de livre, entregar-se de novo aos prazeres e às dores e voltar a acorrentar-se, deixando írrito seu esforço anterior e como que empenhada em fazer o inverso do trabalho de Penélope em sua teia. Ao contrário: Alcançando a calmaria das paixões e guiando-se pela razão, sem nunca a abandonar, contempla e se nutre do que é verdadeiro e divino e que paira acima das opiniões, certa de que precisará viver a vida assim, a vida toda, para, depois da morte, unir-se ao que lhe for aparentado e da mesma natureza, liberta das misérias humanas."

"Nisto, por conseguinte, antes de mais nada, é que o filósofo se diferencia dos demais homens: no empenho de tirar quanto possível a alma da companhia do corpo."

"Ora, a alma pensa melhor quando nada disso tem a perturbá-la, nem a vista, nem o ouvido, nem dor, nem prazer de nenhuma espécie, e, concentrada ao máximo em si mesma, dispensa a companhia do corpo, evitando tanto quanto possível qualquer comércio com ele, e esforça-se por apreender a verdade."

"e a temperança: Não deixa-se dominar pelos apetites, porém desprezá-los e revelar moderação, não será qualidade apenas das pessoas que em grau eminentíssimo desdenham do corpo e vivem para a filosofia?"

"Essa não é a maneria correta de alcançar a virtude: Trocar uns prazeres por outros, tristezas por tristezas, ou temores por temores de outra espécie, como trocamos em miúdos moedas de maior valor? Só há uma moeda verdadeira pela qual tudo isso deva ser trocado: Sabedoria."

"Para não ficarmos misólogos, disse, como outros ficam misantropos. O que de pior pode acontecer a qualquer pessoa é tornar-se inimigo da palavra. A misologia e a misantropia têm a mesma origem. O ódio ao homem nasce do excesso de confiança sem razão de ser, quando consideramos alguém fiel, sincero e verdadeiro, e logo depois descobrimos que se trata de pessoa corrupta e desleal, e depois outra mais nas mesmas condições. Vindo isso a repetir-se várias vezes com o mesmo paciente, principalmente se se tratar de amigos íntimos e companheiros de alto crédito, depois de decepções seguidas, acaba essa pessoa por odiar os homens e acreditar que ninguém é sincero. Nunca observaste que é assim mesmo que as coisas se passam?
- Sem dúvida, respondi.
E não é isso deprimente? Continuou. Pois é claro que esse indivíduo procura o convívio de seus semelhantes sem conhecer devidamente a natureza humana, pois, se dispusesse de alguma experiência nas suas relações com eles, teria compreendido como é realmente o mundo, isto é, que são poucos os indivíduos inteiramente bons ou maus de todo, e que a maioria constitui o meio-termo."

"Tudo o que leva a ideia do contrário da coisa que o recebe, não admite nesta o contrário daquilo que ele leva."

"A alma dá vida e não admite o contrário da vida, logo é imortal, mesmo dando vida ao que é perecível."

"Precisamos tudo fazer para em vida adquirir virtude e sabedoria, pois bela é a recompensa e infinitamente grande a esperança."

"Pode tranquilizar-se com relação à sua alma o homem que passou a vida sem dar o menor apreço aos prazeres do corpo."

"Todo entregue aos deleites da instrução, com os quais adornava a alma, não como se o fizesse com algo estranho a ele, porém como jóias da mais feliz indicação: temperança, justiça, nobreza e verdade, espera o momento de partir para o Hades quando o destino a convocar."

Referências:
Platão. Fédon. trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: Ed. UFPA, 2011.

Em breve postaremos mais sobre o lançamento de um livro acerca da ética ensinada pelos antigos filósofos em diálogo com diferentes tradições espirituais.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

As Formas-Pensamento




"Cada pensamento do homem, ao se desenvolver, passa para o mundo interno e se torna uma entidade ativa ao se associar - amalgamando-se, poderíamos dizer nesses termos - a um elemental; isto é, uma das forças semi-inteligentes dos reinos. Ele sobrevive como uma inteligência ativa, uma criatura produzida pela mente, por um período longo ou curto, conforme a intensidade da ação cerebral que o produziu. Portanto, um bom pensamento é perpetuado como um poder benéfico e ativo; um pensamento maléfico como um demônio maléfico. Assim o homem continuamente preenche o ambiente ao seu redor com um mundo de sua própria criação, povoado com a prole de suas fantasias, desejos, impulsos e paixões, uma corrente que reage sobre qualquer organismo sensível ou/e agitável com o qual entra em contato na proporção de sua intensidade dinâmica." (A.P. SInnett - Occult World, p.130; Também em: Mahatma Letters to A.P. Sinnett, pp.70-71, edição de Pasadena).

Blavatsky sobre Atma-Buddhi-Manas na D.S. vol.1



Trechos sobre Atma-Buddhi-Manas no volume 1 de A Doutrina Secreta.


H.P.B. 



"O astral, por meio de kama (o desejo), atrai continuamente manas para a esfera das paixões e desejos materiais. Mas se o homem melhor, ou manas, se esforça por escapar à atração fatal, e orienta suas aspirações para Atman (Neshamah), então buddhi (ruach) vence, levando consigo manas para o Reino da Espírito Eterno."  (D.S. Vol. 1, p.278) 


" o corpo segue os impulsos, bons ou maus, de manas; manas procura seguir a luz de buddhi, mas frequentemente falha. Buddhi é o molde das "vestes" de Atman, pois Atman não é o corpo, nem forma, nem coisa, e buddhi não é o seu veículo senão em sentido figurado." (D.S. Vol. 1, p. 278). 


quarta-feira, 24 de junho de 2020

Notas sobre o Karma - Lamrim ChenMo (Je Tsongkhapa)

As Características Gerais do Karma 

Seleção de passagens sobre o Karma nos capítulos 13 e 14 do  Lamrim ChenMo de Je Tsongkhapa


Je Tsongkhapa


Neste ponto tenha domínio sobre as classificações de virtude e não-virtude, bem como os seus efeitos. Deve fazer de sua prática a adoção e a retirada apropriadas de virtudes e não-virtudes, respectivamente. 

 • Pois, a não ser que reflita sobre os dois tipos de karma e os seus efeitos e, então, abandone a não-virtude e adote a virtude, não interromperá as causas de renascimentos miseráveis, e mesmo temendo os reinos miseráveis, não será capaz de escapar daquilo que teme.  

• É necessário ter convicção acerca do karma e de seus efeitos.  

• Há quatro modos de refletir sobre o karma e os seus efeitos: • 1. A certeza do karma. • 2. A intensificação do karma. • 3. Não experienciar efeitos de ações que você não cometeu. • 4. As ações que você cometeu não perecem.

1. A certeza do Karma  

• Toda felicidade no sentido de sensações de alívio ou agradáveis surge de karma virtuoso previamente acumulado.  

• É impossível obter felicidade a partir de karma não-virtuoso.  

• Todos os sofrimentos no sentido de sensações dolorosas, incluindo mesmo o sofrimento mais sutil que ocorre na mente de um Arhat, surge de karma não-virtuoso previamente acumulado.
  
• É impossível obter sofrimento a partir do karma virtuoso.  

• Das não-virtudes advêm todos os sofrimentos e quedas em reinos miseráveis. Das virtudes advêm todas alegrias e renascimentos em reinos auspiciosos. 

• Consequentemente, a felicidade e o sofrimento não ocorrem na ausência de causas, nem surgem de causas incompatíveis, tais como um criador divino ou uma essência primeva. 

 • Pelo contrário, a felicidade e o sofrimento, em geral, advêm do karma virtuoso e não-virtuoso, e cada felicidade e sofrimento particular surgem individualmente, sem mesmo uma mínima confusão dentre as várias instâncias particulares desse tipo de karma.  

• Alcançar certo conhecimento acerca do caráter certo ou não-enganoso do karma e seus efeitos é uma perspectiva correta para todos os budistas e é considerado como o fundamento de toda virtude.  

2. A intensificação do Karma 

• Um efeito de imensa felicidade pode surgir mesmo de um pequeno karma virtuoso. 

 • Um efeito de imenso sofrimento pode surgir mesmo de um pequeno karma não-virtuoso.  

Portanto, a causalidade karmica interna parece envolver uma intensificação que não é encontrada na causalidade externa.  Como um veneno que foi ingerido, a prática de mesmo uma pequena ação não-virtuosa cria em nossas vidas grande medo e pode levar uma queda terrível.

Assim como o grão amadurece numa recompensa, mesmo a criação de um mérito pequeno pode levar a vidas futuras de grande felicidade e será imensamente significativo também.

• É pelo acúmulo de gotas d’água que um grande vazo gradualmente se enche. Da mesma forma um tolo acaba preenchido de não virtude acumulada de pouco em pouco. E assim funcionada com os perseverantes e a virtude.  

• Mesmo que agora ignore tais assuntos, em vidas futuras experienciará os seus efeitos.  

• Aqueles que não treinam em generosidade, shila e daí por diante poderão ter contato com boas linhagens, bons corpos e boa saúde e podem ter grande poder e riqueza enorme, mas não encontrarão a felicidade em vidas futuras.  

• Após ter obtido a certeza de que o karma virtuoso e não virtuoso dão origem à felicidade e ao sofrimento, elimine as não-virtudes e esforce-se em ações virtuosas. Os que não tiverem fé que façam como quiserem. 

3. Não experienciar os efeitos de ações não cometidas  

• Se não tiver acumulado o karma que é a causa para uma experiência de felicidade ou sofrimento, você não experienciará a felicidade ou sofrimento que é o seu efeito.

4. As ações cometidas não perecem (sempre têm efeitos) 

 • Aqueles que cometem ações virtuosas e não-virtuosas criam efeitos agradáveis e desagradáveis. Como dito no Dharma-Raja-Samadhi sutra: “Uma vez cometida uma ação, você experienciará os seus efeitos e não experienciará os efeitos de outros.”

 • As Bases do Vinaya diz: Mesmo numa centena de eras, o Karma não perece. Quando as circunstâncias e o tempo certo chegam, os seres certamente sentem os seus efeitos. 

As Variações do Karma 

  Há três modos de se envolver em condutas boas e ruins – fisicamente, verbalmente e mentalmente. 

• O Buddha, o Bhagavan, resumiu essa doutrina no ensinamento das dez ações não- virtuosas e virtuosas. 

• O Buddha viu que quando se abandona as dez ações não virtuosas, adota-se as ações virtuosas. 

• Se praticar esses três caminhos de ação – guardando a sua fala, restringindo-se mentalmente e não cometendo ações não-virtuosas – você alcançará o caminho ensinado pelo Sábio. 

• Conhecendo os dez caminhos de ações não-virtuosas, restrinja-se até mesmo da motivação de cometê-las. 

• Esta prática é indispensável como a base para todos os três veículos (hinayana, mahayana, vajrayana). 

• Os caminhos das dez ações virtuosas são fontes de nascimentos humanos ou divinos, da iluminação dos realizadores solitários (pratyekabuddhas) e de todas ações dos Bodhisattvas, assim como das qualidades de um Buddha. 

• Não há causas de boas condições ou bom status senão shila (harmonia) 

• Continuamente guarde a sua shila, mantendo um senso de contenção. 

• Há pessoas que não praticam tal contenção mesmo em relação a uma única prática de shila, mas ainda assim dizem: “sou um praticante do Mahayana.” Isso é muito indigno. 

• O Sutra de Ksitigarbha diz: “Por meio desses dez caminhos de virtude, você se tornará um Buddha. Entretanto, há aqueles que, por toda a sua vida, não mantêm minimamente um único caminho de ação virtuosa, mas que dizem coisas tais como: “sou uma praticante Mahayana; busco a iluminação perfeita e insuperável.” Tais pessoas são grandes hipócritas e mentirosas. Eles enganam o mundo na presença de todos os Buddhas e pregam o niilismo. Ao morrer, eles parecem confusos e caem novamente (num renascimento inferior).

As Dez ações não virtuosas:  
1. Matar; 
2. Roubar;
3. Conduta sexual inadequada;
4. Mentir;
5. Discurso divisor/discórdia;
6. Discurso ofensivo/ fala agressiva;
7. Discurso sem sentido/ Tagarelice/ Fofoca;
8. Cobiça/avareza;
9. Malícia/ Desejar o mal;
10. Visões errôneas.

• Cada uma dessas ações pode variar de acordo com o grau de intensidade e o contexto que são realizadas. Por exemplo, sacrificar outros seres em rituais religiosos (animais ou humanos) devido à visão errônea de achar que um criador gerou seres para serem usados, podendo até mesmo sacrificar um arhat ou tentar matar um Buddha constitui um tipo de matar muito mais pesado e danoso que matar por acidente. 

• Causar divisões ou discórdia entre buscadores do Dharma também é uma falta grave. 

• Não é possível superar as não-virtudes sem arrepender-se, confessá-las e comprometer-se a não repetí-las.

 •  Também há variações de peso no caso das ações virtuosas. Dar o Dharma com a intenção de auxiliar os seres sencientes e alcançar o Budado é vastamente superior à doação de coisas materiais. 

• Ao praticar as dez ações virtuosas por meio da compreensão da originação-dependente, o nível de um pratyekabuddha (realizador-solitário) é alcançado. 

• Quando se cultiva as dez ações virtuosas com grande compaixão, métodos habilidosos e aspiração de não abandonar os seres sencientes, focando-se na sabedoria vasta e sublime de um Buddha, alcança-se o nível de um bodhisattva e todas as perfeições. Por essa prática em todas as situações, alcançam-se as qualidades de um Buddha.  

•Ações não virtuosas criam mesmo em renascimentos afortunados efeitos tais como  um tempo de vida curto, muitas doenças e miséria.  

• Entenda que as ações virtuosas e não-virtuosas projetam o nascimento em reinos felizes e em reinos miseráveis, respectivamente.

•O karma consumado (maduro) é aquele por meio do qual se experiencia o desejado e o indesejado.

• Asanga (Abhidharmasamuccaya) fala em quatro tipos de Karma:
1. um único instante de uma ação que  acumula uma semente (tendência/samskara) a se desenvolver numa única vida;
2. uma ação que acumula uma semente a ser desenvolvida em muitas vidas;
3. muitos instantes de uma ação contínua que acumula uma semente para apenas um corpo (uma vida);
4. e muitas ações mutuamente dependentes que acumulam sementes para muitos corpos em uma sucessão de vidas.

• O karma cujo resultado se experiencia definitivamente é aquele conscientemente gerado e acumulado. Karma cujo resultado não necessariamente será experienciado é aquele conscientemente gerado, mas não acumulado. 

• Há uma distinção entre karma gerado e karma acumulado (Yogacarabhumi -Asanga): 

O que é karma gerado? É um pensamento (ação de mente) ou uma ação desempenhada verbalmente (ação de fala) ou fisicamente (ação de corpo). 

• Karma acumulado é aquele que NÃO  se enquadra nestes dez tipos de ações:
1.ações realizadas em sonhos;
2.ações realizadas sem saber (e sem intencionalidade) de que causam danos;
3. Realizadas inconscientemente;
4. feitas sem intensidade ou não-continuamente;
5.feitas por engano;
6. feitas devido ao esquecimento;
7.feitas sem querer;
8. ações eticamente neutras;
9.ações erradicadas por meio do arrependimento;
10. erradicadas por um antídoto.

• Essas ações têm efeitos e consequências, mas não necessariamente se acumulam no continuum mental como samskaras/tendências por não terem a intencionalidade ligada ao poder do apego e da aversão.  

• Karma experienciado após ter renascido é o efeito de ações acumuladas a serem experienciadas na próxima vida após a ação em questão. Karma experienciado em outros períodos é o efeito de ações que amadurecerão durante ou após o terceiro nascimento após a ação em questão.  

• O modo como os muitos karmas virtuosos e não-virtuosos acumulados em seu fluxo mental amadurecem:

• (1) O karma mais intenso amadurecerá primeiro. 
• (2) se a intensidade/peso dos karmas é igual, então, qualquer karma manifesto na hora da morte amadurecerá primeiro. 
• (3) Se também houver equivalência entre os karmas nessa situação, aquele karma com o qual se tornou predominantemente mais habituado amadurecerá primeiro. 
 • (4) Se não houver um karma mais predominante que outro, então, aquele gerado primeiro amadurecerá primeiro.  
• É certo que você alcançará um bom corpo e uma boa mente ao abandonar as dez ações não-virtuosas. Se conseguir gerar as condições para um corpo e uma mente plenamente qualificados, então acelerará o seu cultivo do Dharma como nada mais poderia. Portanto, busque tal estilo de vida.    
• Outras atitudes puras incluem: abandonar o ciúmes, a competitividade, o desprezo quando vê outros praticantes do ensinamento que são superiores, iguais ou inferiores a você, admirando-os.

 • Mesmo que seja incapaz de fazer o que é dito acima, discernir por muitas vezes durante o dia de que deve fazê-lo.

(Seleção e tradução por Bruno Carlucci em junho de 2020).

Referências:

Lamrim ChenMo vol. 1- Tsongkhapa (trad. em inglês -The Great Treatise on the Stages of the Path to Enlightenment - Volume 1). Lamrim ChenMo Translation Comittee.


segunda-feira, 18 de maio de 2020

O que é Teosofia

"A Teosofia é, então, a Sabedoria arcaica, a doutrina esotérica outrora conhecida em todo país antigo que pudesse se reivindicar como civilização. Esta "Sabedoria" mostram-nos os escritos antigos como uma emanação do Princípio divino; e a clara compreensão disto está tipificada em nomes como o Budh indiano, o Nebo babilônico, o Thoth de Memphis, o Hermes da Grécia; nas apelações, também, de algumas deusas -- Metis, Neitha, Athena, a Sophia gnóstica, e, por fim, nos Vedas, da palavra 'saber'." (Blavatsky, A Modern Panarion, p.263).


sexta-feira, 15 de maio de 2020

A Teosofia no século XXI

A Teosofia no Século XXI

Bruno Carlucci 




Num documento para a fundação da Seção Esotérica, hoje publicamente acessível em inglês (e em português) internet afora, Blavatsky, em sua tentativa de abrir uma porta para estudantes mais seriamente comprometidos com os ideais e o estudo da teosofia, esclarece o seguinte:

"Nenhum Mestre de Sabedoria do Oriente aparecerá ou enviará qualquer emissário à Europa ou América após esse período [31 de dezembro de 1899]...até o ano de 1975. Tal é a Lei pois estamos no Kali Yuga   - a Idade Negra - e as limitações deste ciclo, o primeiro cujos 5000 anos terminarão em 1897 são grandes e quase insuperáveis." (Blavatsky em seu memorando preliminar à Seção Esotérica. Trechos de tradução publicada pelo Círculo Blavatsky [CIBLA], Ano 01, 02, 1988). 

Nas cartas dos Mahatmas fica bem claro que Blavatsky era o ponto de contato deles com a Sociedade Teosófica e que após a sua morte, membros da Sociedade Teosófica (ou qualquer outra instituição) não teriam mais as facilidades de acesso a eles que (alguns) tiveram por meio de suas cartas.  

A base do ensinamento a ser disseminado pela Sociedade Teosófica são as obras escritas e editadas sob os auspícios desses Mahatmas. Obras, que embora não sejam perfeitas, pois seus escritores e editores, tais como Blavatsky (a mais avançada dentre eles e o ponto real de conexão dos Mestres com o restante da Sociedade, uma verdadeira Iniciada) não tinham a mesma estatura espiritual deles, ainda assim são o que de mais profundo há nessa literatura. Esta é a base para o pensamento teosófico moderno, os preceitos e princípios que expõem o norte da Religião-Sabedoria, seus ensinamentos fundamentais, as leis fundamentais e a ética necessária para quem aspira à senda gradual que leva à Sabedoria. 

Isso não significa se fechar num dogmatismo que ignora contribuições posteriores e importantes de muitos autores teosóficos que se mantiveram coerentes com a literatura original, nem ignorar tradições anteriores, fundadas por indivíduos de estatura espiritual ainda mais elevada que a da fundadora da Sociedade e citadas por ela e seus Mestres. Pois nunca foi o propósito que a Teosofia se encarcerasse numa igreja, num culto, nem que a Sociedade Teosófica (ou qualquer outro grupo teosófico) se apresentasse como o único caminho possível, mas que servisse de ponte para investigar e auxiliar no estudo das várias tradições que estão ligadas à Religião-Sabedoria. O propósito é que a teosofia seja mais uma vela, dentre outras velas, em meio a um mundo dominado pelas trevas do materialismo.  

Se houve um esforço dos Mahatmas após 1975, provavelmente foi por outros caminhos, em outras roupagens, de acordo com o que a humanidade precisava durante a transição do século XX para o XXI e, também, do que era mais viável e mais adequado para o momento. Porém, isso não anula o bem que o estudo da teosofia e que grupos teosóficos comprometidos com esse estudo ainda possam fazer (e fazem) para as pessoas. 

Aspirar aos degraus da escada de ouro e meditar sobre eles, aliado ao estudo cuidadoso da literatura original e das tradições por ela citadas, é uma boa prática a ser buscada por cada um, seja em sua busca individual ou em grupo, que almeja se conectar com a teosofia. Pois embora instituições, grupos, textos, tradições se percam com os movimentos da história, a Religião-Sabedoria é sempre a mesma e suas regras e preceitos nunca mudam: 

 1. Vida limpa.
 2. Mente aberta.
 3. Coração puro.
 4. Intelecto ardente.
 5. Clara percepção espiritual.
 6. Afeto fraternal para com todos.
 7. Presteza para dar e receber conselho e instrução.
 8. Leal senso de dever para com o instrutor. 
 9. Pronta obediência aos preceitos da Verdade.
10. Corajoso suportar das injustiças pessoais.
11. Destemida declaração de princípios. 
12. Valente defesa daqueles que são injustamente atacados.
13. Mira constante no ideal de progresso e perfeição humanos. 

(Tradução de A Escada de Ouro publicada pelo Círculo Blavatsky [CIBLA], Ano 01, 02, 1988).